segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

CUBA

Cuba apareceu nestes últimos dias com mais freqüência na mídia televisiva. Isso me lembrou que no meu dia-a-dia, ela sempre esteve presente, até alguns dias atrás quando Angelita Feijo, uma aluna muito especial do curso de comunicação, me disse contente que estaria concorrendo a uma bolsa de estudos por lá. Na hora me vieram à mente Silvio Rodrigues, Pablito Milanes, Ibrahim Ferrer, Cumpay Segundo, e como boa revolucionária que sou, não poderia faltar a memória do Ernesto - o diário que ele escrevera foi um dos primeiros livros que eu li na adolescência-. Continuo lendo ele, e outros tantos que fazem alusão à sua luta.

Sempre que posso, volto a escutar os discursos dele e do Fidel por ser grande apreciadora da causa, e por ser afeta à boa escrita, à boa oratória. Os discursos de ambos sempre me surpreenderam pela sua coesão, por serem concisos, objetivos, claros, incontestáveis à língua solta.

Lembro-me de relatos do meu pai quando ele visitara Cuba. Ele como grande educador havia ficado maravilhado com ela, trouxe de presente para mim (quando eu tinha 13 anos) um vinil que até hoje me acompanha. Na época, não sabia, mas hoje me dou conta de que era eu privilegiada pela cultura musical que meus pais me davam. O vinil falava de um Unicórnio e mesmo sem entender o sentido intrínseco da peça, eu fazia parte daquela melodia e talvez seja esse o motivo pelo qual não consigo me desvencilhar dela.

Fui então embalada nos meus sonhos de menina por poetas como Silvio, Pablo, entre outros tantos de países diferentes como México, que chegou da mesma forma com Rocio Durcal, Miguel Acevez Megía, y el Rey Vicente Fernadez. Argentina, Chile, Perú e o Brasil do Chico Bubu, carinhosamente apelidado por mim nas noites de farra, e outros tantos deste país. trouxeram para meu “chip” da memória, poetas, músicos, tangos, milongas, forrós, entre outros ritmos.  Assim de todos os lugares que ele juntamente com a minha mãe visitavam, quer seja para estudar, quer seja para simplesmente participar de eventos de suas áreas.

Numa certa época passamos a acompaña-los nessas viagens já à serviço dos governos que requisitavam o trabalho do meu pai. Deve ser por isso, entre poesia e música, livros e vicissitudes, que eu tenho uma leitura diferenciada para Cuba. O fato de estudar o poder do discurso midiático também me favorece, porque me ensina a escutar sem obrigar-me a concordar, procuro sempre buscar o lado carnavalesco da historia para logo descartá-lo, procuro saber a fonte, procuro sempre examinar o fato desde o ponto onde ele foi criado, tento ao máximo me tornar parte dele para não cometer o erro de entrar numa línea de raciocínio pré-moldada, ajusto a análise para que perpasse mais aderida à preceitos do pensamento humano do que a linearidade a que estamos treinados pelos meios.
 

Um desses preceitos sempre foi e será “confiar no homem, como um menino confia em outro menino” de Thiago de Melo, tento também sair um pouco da bolha minúscula e irrisória do mundinho que as mesquinharias do cotidiano nos ata, para finalmente analisar o fato.
 

Cuba se compara com um portador de deficiência física, com suas limitações de locomoção, de acessibilidade, relegado a um quadro grotesco pendurado na parede,  que olhamos acelerando a vista para passar logo, partindo para algum outro mais agradável de se olhar.

Como qualquer deficiente físico, supera as expectativas tornando-se exemplo em alguns aspectos. Em outros, a falta de consciência dos demais - muro até maior do que a própria deficiência – vence, minimizando ações que poderiam ser realizadas e não o são.

Como qualquer deficiente físico, ainda é perseguido pelo período antecessor à paraplegia, quando tinha maiores possibilidades que desperdiçava ou eram desperdiçadas pela ditadura ideológica dos demais.

Como qualquer deficiente físico se arrasta aos trancos e barrancos para realizar o que todos dizem ser irrealizável, assustando alguns com a atitude, comovendo uma grande leva, incomodando outra, para no fim ser compreendida por um ou dois agentes.


De qualquer forma, se olhada numa visão geral da sua história, da sua realidade, da invisibilidade a que está submetida e da distorção que o tempo trouxe para seus ideais - vista por outros ou por eles mesmos-, não há como contestar a grandiosidade de seus feitos, a despeito do discurso midiático a fim de denegri-los, a despeito de todos os cubanos de Miami, a despeito dos próprios erros de sua política interna, a despeito do tempo, da queda de seus pilares, da distorção dos seus maiores ícones representativos, a despeito do vergonhoso embargo a que ainda está submetida, e dos tantos países coniventes e covardes. Nada nega a sua força como exemplo de luta contra a ditadura ideológica a que a maioria foi sugada, digerida e defecada.

Nenhum comentário:

Postar um comentário