quarta-feira, 18 de abril de 2012

RIFA DE SEXO


No dia 17 deste mês uma noticia surpreendeu os habitantes da cidade de Manaus. A manchete do jornal dizia “Rifa do sexo vira “moda” na Manaus Moderna”. Todos ficaram perplexos ao se deparar com ela.

Gostaria de entender qual é a surpresa? A rifa ou o Sexo com menores - crianças e adolescentes -nas feiras? De qualquer forma é hipocrisia porque a prática de sexo com menores nas feiras é antiga, se é rifada ou não, continua sendo uma prática funesta. Lembrou-me o caso do Rei louco da Espanha na caçada de elefantes que virou noticia. Caçada de elefantes é tão terrível quanto, ainda estarmos falando em reis, em pleno século XXI.

Os meninos e meninas que trabalham na feira seguem uma rotina de exploração de 26h/dia. Começa de madrugada na arrumação das mercadorias nos balcões dos feirantes, segue em frente no serviço prestado aos clientes levando e ajudando com as compras, continua com o fechamento da feira onde, la estao eles, ajudando na limpeza, recolhimento do material que não foi vendido e/ou estragado.

Quando se pensa que depois disso virá o descanso vem o serviço sexual que é o que rende a eles mais dinheiro, um canto pra dormir ou a manutenção do local para continuar trabalhando no dia seguinte. Todos eles sofrem de uma doença que não deveria nem existir neste século, nem em um país como este, com tanta riqueza para dar - A síndrome consumptiva, mais conhecida como Doença do definhamento -, elas vão morrendo aos poucos, assoladas pelo gerúndio da morte, um gerúndio interminável e que está sempre acompanhado de algum advérbio de intensidade.

 Tudo isso porque Códigos de defesa da Criança e do Adolescente são meros textos que regem uma realidade que não existe. Para estas crianças e adolescentes não há escola, não existe família que os oriente ou os ampare, e se existem familiares, são eles mesmos que os mantêm.

Então, onde estivemos esse tempo todo que não vimos isso e hoje arregalamos os olhos de surpresa. Essa realidade sempre esteve ali no meio das compras que fizemos no mercado, nas feiras, no meio de camelôs empilhados nas ruas da cidade.

A pior violência não é a de quem comete o ato libidinoso e animalesco que em toda sua ignorância e brutalidade se aproveita destas crianças, nem da vitima que se expõe ao mal feitor, pois se trata de crianças e adolescentes que não tem uma base familiar solida para garantir-lhes a segurança e orientação necessárias. A violência maior é daquele que tem consciência do fato e se omite, não faz nada, não diz nada, não procura encontrar razões ou soluções, não interfere e olha como se não visse, pior, se surpreende quando isso vêm à público. Surpresa estou eu com a surpresa.