"Aquel que prefiere las reglas
a la justicia no sabe tratar a las personas" Galeano
Dentre as políticas públicas, a segurança do
trabalho tem chamado mais a atenção, devido ao número de registros que apontam
para o descuido com a saúde de funcionários. Profissionais que sofrem
patologias decorrentes de sua labuta. O contexto desse quadro fica por conta do
crescimento desregrado das cidades sem planejamento urbano que atenda às
necessidades básicas como educação de qualidade, higiene, saneamento (água e
esgoto) e uma economia inclusiva.
O bairro cresce, assim como cresce o comércio
de bebidas ou entorpecentes e o número de casos de violências. É nesse meio que
o homem se descobre. O resultado? Indignação e revolta e/ou a institucionalização
de sua condição como sendo algo imutável e natural, “de um lado tem a lua, do
outro tem o sol e no meio tem o homem desinformado, acomodado, manipulável.
Produto de uma sociedade oligárquica e egoísta”. É
nesse meio que funcionários são afetados na sua dignidade, sua saúde arriscando
sua segurança com o objetivo primo de “apenas” sobreviver, como que endossando
o homem dostoievquiano “capaz de adaptar-se a qualquer situação”.
Até pouco tempo atrás, o empregado não era
considerado importante. Encontrava-se desprotegido e subordinado aos desejos e
ordens do patrão. Hoje uma nova consciência pautada em parâmetros da agenda
Setting exige um olhar diferenciado para ele. Foram criados mecanismos e
instrumentos de defesa, promulgadas leis que o amparam e lhe garantem seus
direitos perante o staff, criadas normas de segurança para minimizar acidentes
e reconhecer os danos físicos ou psíquicos, que possa causar-lhe o exercício da
sua profissão. Muitas empresas têm assumido e compreendido a importância de
seus funcionários, não só em beneficio próprio, mas em prol de uma nova
consciência empresarial.
Muitas delas lançam mão de alternativas nunca
antes cogitadas, como a contratação de profissionais nas áreas de psicologia,
filosofia, sociologia para orientar suas ações no trato do público, interno e
externo. Entrementes existe um viés que não está sendo considerado. A violência
que significa a padronização de comportamentos.
A ética empresarial assim como a da sociedade
de consumo tem como base um modo de pensar, de se comportar e de viver que, na verdade,
anula o verdadeiro sentido da ética como exercício da consciência, da liberdade
e da responsabilidade. Encontrar um funcionário que fuja das normas e analise
situações diferenciadas é algo muito raro. O funcionário padrão é aquele que
não se deixa acometer por sentimentos, contextos ou emergências não calculadas,
segue as normas como se fossem rédeas empresariais. Com o tempo a linearidade
deste raciocínio acomoda-se a esta rotina e a pessoa deixa de pensar para
simplesmente executar ações mecanicamente.
Mas a violência maior acontece ao sair do
trabalho. Se empresas normatizam os comportamentos dos seus empregados
unificando suas idiossincrasias, a sociedade faz o mesmo com a população. É o
homem é transformado em um ser destituído de qualquer significado maior do que
a de um objeto. E o compromisso social onde fica? Vivemos o mero lucro
extrativista? Empresas com políticas pontuais de segurança do trabalho e sem
coesão com as demais políticas sociais e culturais da urbe fazem que as poucas
empresas com verdadeiro compromisso social se tornem pequenas ilhas inúteis. A
segurança do trabalho tem antes de tudo que ser um ato consciente e refletido por
todos, sociedade, empresas e funcionários.