segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

VAGAS PARA PORTADORES DE DEFICIENCIA FÍSICA - Uma estrela de Davi no braço.

No dia 21, estive no Manaura shopping, as instalações são muito boas e fiquei contente em saber que existe mais um local para passear e fazer compras. Cheguei por volta das 16h e estive olhando algumas coisas que pretendo comprar. A locomoção para cadeira de rodas é perfeita, ambientes amplos no passeio. Embora algumas lojas, talvez na ânsia de vender mais, coloquem os stands muito perto uns dos outros, criando desta forma um corredor para os clientes que não comporta uma cadeira de rodas.

Procurei banheiros e encontrei um, específico para portadores de deficiência física, infelizmente a tampa do vaso sanitário impede que as barras de apoio sejam completamente utilizáveis, ele parece não se encontrar seguro o suficiente no piso e preferi não arriscar-me a levar uma queda. Decidi voltar pra casa.

já que nem eu, nem meu filho possuimos carro pedi um emprestado para que ele me levasse e pegasse quando precisa-se. Fui então aguardá-lo no quinto piso de garagem. Ele, por sua vez, estacionou o carro na vaga para deficientes físicos e entrou para me buscar. Acabamos tendo um pequeno desencontro e decidi esperá-lo próximo da saída. Estávamos, eu e a minha mãe, uma senhora idosa.

Então fomos abordadas por um dos guardas que desde seu veículo, indagou sobre o carro que estava na vaga de deficientes. Confesso que me senti agredida pela forma como o rapaz se dirigiu para a minha mãe despejando regras e normas, feito menino que decora a tabuada de matemática e repete na frente da professora. Disse que o carro teria que estar identificado com um "cartão" como veiculo de portador de deficiência física. Nesse momento eu perguntei, como poderia ser isso se o carro não nos pertencia? Fiquei sem resposta e voltei a ouvir a tabuada, tentei em vão obter informação do tal "cartão", infelizmente ele não soube me responder novamente.

Bom, conclui e disse, se o senhor exige o uso desse cartão no veículo mesmo sendo um veiculo emprestado, tem ao menos que dizer que cartão é esse, onde o encontro. Mas nem mesmo assim os modos e o trato se suavizaram. Não sei qual o treinamento que lhes é dado, nem de que tipo de lar eles vem, mas certamente ninguém ensinou-os a ter modos para falar com pessoas, principalmente com idosos e mulheres. Nesse momento meu filho chegou e, visivelmente contrariado ao encontrar sua avó e sua mãe sendo agredidas e numa situação constrangedora como aquela preferiu embarcar-nos sem maiores delongas.

O caso é simples como um verso (parafraseando Drummond) visto que existe fiscalização de quem estaciona e onde. Uma vez constatada a presença de um veículo não identificado como sendo de um portador de deficiência, e já que nem todos eles, têm carro próprio, verificasse se esta transportando um portador de deficiência ou não. Simples. Já que se é possível perder tempo para encontrar a pessoa que o utiliza para fazê-la se sentir mal, é possível encontrá-la para inverter a situação no sentido positivo ao invés de manter uma postura reacionária e pontual.

As vagas destinadas para os portadores de deficiência, assim como as de idosos, não são vagas que devam excluir e sim incluir. Não se trata de marcar os estes, como na segunda guerra se fazia com os judeus que eram obrigados a colocar uma estrela no braço para serem identificados como judeus. A inclusão nasce em um berço diferente, nasce do respeito, da consideração por uma parcela que deve ser vista pelos empresários como uma parcela significativa de mercado, mas antes de tudo deve ser vista como uma parcela que merece viver e fazer do seu dia-a-dia um dia normal. Tudo deveria estar voltado para facilitar e não para burocratizar sua estada em qualquer estabelecimento que seja.

TEM CARRO NAO IDENTIFICADO NA VAGA, VAMOS VERIFICAR SE ESTA OU NAO TRASPORTANDO ALGUEM COM DEFICIÊNCIA. Shopping é um conceito que já superou impasses desse porte há muito tempo atrás. Já é parte de uma cultura global deve solucionar problemas de acessibilidade e não criá-los.

Em suma, depois de dez anos dessa Lei ter sido lançada pelo então presidente, ninguém além dos que sentem o problema em carne própria, se importam. Ainda estamos engatinhando num processo já superado ha tempos por outros países. Há que se lembrar que a maneira como estas questões são tratadas servem como índices considerados para indicar o estágio de desenvolvimento em que se encontra uma cidade, um país, uma região.

domingo, 29 de janeiro de 2012

MURALHAS SOCIAIS I

Por falar sobre a Lei federal que o presidente Lula lançou logo no início do seu governo. Que diz em seu texto, que as edificações, sejam elas particulares ou do estado, tinham um prazo de dez anos para se adaptarem e dar acessibilidade aos portadores de deficiência física. Da minha perspectiva de portadora, dez anos é uma vida, principalmente para quem quer, como todo ser humano, a sua independência, poder se locomover em ruas, calçadas e edificações.

Dia 20, passei por maus bocados. Num dos Pacs da cidade de Manaus, o veículo que me transportava foi impedido de estacionar próximo da rampa e numa posição um tanto inclinada com o objetivo de dar espaço para posteriormente posicionar a cadeira de rodas que iria me servir para descer. Neste PAC como em diversos locais, ainda não tem vaga para portadores de deficiência, nem mesmo só de fachada como são colocados em muitos lugares. E sabem quem se sentiu incomodado pela manobra? O “franelinha” que é quem comanda quem estaciona e como devem estacionar os motoristas do estacionamento do PAC.

Depois de muita discussão para fazê-lo entender e poder receber o seu consentimento, sem correr o risco de voltar e encontrar o veículo riscado. Consegui finalmente, entrar para cumprir com meus deveres de cidadã. Afinal, o único caso em que ninguém nunca esquece de nós é na hora de cobrar e punir atrasos nos pagamentos de todos os serviços que como qualquer pessoa “desfrutamos”. A única diferença é conseguir chegar onde nos é devido chegar.

Assim, foi se desenrolando a prometida sexta-feira, após o primeiro impacto do primeiro absurdo onde a realidade dá um “tapa” na nossa cara, chegou a hora de encarar mais um leão da intolerância e do desrespeito para com nós. Fui tentar ser atendida num consultório localizado no centro da cidade, com um dos melhores médicos que eu já tive o prazer de conhecer, o encontro marcado foi num desses tantos edifícios onde consultórios se concentram e que conseguem não somente aglomerar consultórios, mas substantivos estarrecedores como ENGARRAFAMENTO, CENTRO, EDIFICIO, ELEVADOR, INCENDIO.

Lá chegando reconstatei mais uma vez que ainda não havia sequer uma rampa que me levasse na frente do elevador. Tive que ir pela garagem, onde nenhum dos guardas é sequer alertado para tal possibilidade, não sabem como devem lidar com essas situações. Fatos que demonstram logo de entrada o descaso da gestão administrativa do local para com o portador de deficiência física.

Depois de finalmente chegar ao sétimo andar sem perder a oportunidade de refletir, como sempre, a respeito daquele cartaz que toda vez fica me olhando como que zombando da minha cara e que diz em letras enormes – EM CASO DE INCÊNDIO NÃO UTILIZE O ELEVADOR, VÁ PELAS ESCADAS -, entrei numa sala de espera onde as cadeiras destinadas aos pacientes tiveram que ser retiradas para que eu pudesse passar com a minha cadeira de rodas, praticamente ocupei o cômodo todo, pois o espaço é minúsculo.

Tive que esperar três horas para ser atendida, embora a consulta tivesse sido marcada para a hora que cheguei. Teria esperado mais se pudesse levar em consideração somente o médico, entrementes, impossível evitar depois de três horas o momento constrangedor onde somos obrigados a fazer a pergunta fatal para a secretaria  - têm algum banheiro para portadores de deficiência física? O constrangimento decorre da uníssona resposta dela, onde visivelmente assustada e com ar de surpresa, como se em toda sua longa experiência de secretaria nunca tivesse sido perguntada por isso, diz não haver no prédio todo, nenhum banheiro especifico para cadeirantes.

Três longas horas, tentando lembrar da técnica que todo portador de deficiência elabora para casos como esse, sem poder fazer nada a respeito e sob o olhar de todos, a minha preocupação tornou-se maior porque eu já estava ali, justamente para tratar de assuntos que decorrem de longos períodos de tempo sentada na cadeira de rodas, causadores do mau funcionamento sanguineo e renal, e tive que preender “xixi” durante três horas.