No dia 21, estive no Manaura
shopping, as instalações são muito boas e fiquei contente em saber que
existe mais um local para passear e fazer compras. Cheguei por volta das
16h e estive olhando algumas coisas que pretendo
comprar. A locomoção para cadeira de rodas é perfeita,
ambientes amplos no passeio. Embora algumas lojas, talvez na ânsia
de vender mais, coloquem os stands muito perto uns dos outros, criando
desta forma um corredor para os clientes que não comporta uma cadeira de
rodas.
Procurei banheiros e
encontrei um, específico para portadores de deficiência física, infelizmente a tampa do vaso sanitário impede que as
barras de apoio sejam completamente utilizáveis, ele parece não se
encontrar seguro o suficiente no piso e preferi não arriscar-me a levar
uma queda. Decidi voltar pra casa.
já que nem eu, nem meu filho possuimos carro pedi
um emprestado para que ele me levasse e pegasse quando precisa-se. Fui então aguardá-lo no quinto piso de garagem. Ele, por sua vez,
estacionou o carro na vaga para deficientes físicos e entrou para me
buscar. Acabamos tendo um pequeno
desencontro e decidi esperá-lo próximo da saída. Estávamos, eu e a minha mãe, uma
senhora idosa.
Então fomos abordadas por um dos guardas que desde seu veículo, indagou sobre o carro que estava na vaga
de deficientes. Confesso que me senti agredida pela forma como o rapaz
se dirigiu para a minha mãe despejando regras e normas, feito menino que
decora a tabuada de matemática e repete na frente da professora. Disse
que o carro teria que estar identificado com um "cartão" como veiculo de portador de deficiência física. Nesse momento eu perguntei, como
poderia ser isso se o carro não nos pertencia? Fiquei sem resposta e
voltei a ouvir a tabuada, tentei em vão obter informação do tal "cartão", infelizmente ele não soube
me responder novamente.
Bom, conclui e disse, se o senhor
exige o uso desse cartão no veículo mesmo sendo um veiculo emprestado, tem
ao menos que dizer que cartão é esse, onde o encontro. Mas nem mesmo assim os modos e o trato se suavizaram. Não sei
qual o treinamento que lhes é dado, nem de que tipo de lar eles
vem, mas certamente ninguém ensinou-os a ter modos para falar com
pessoas, principalmente com idosos e mulheres. Nesse momento meu filho
chegou e, visivelmente contrariado ao encontrar sua avó e sua mãe
sendo agredidas e numa situação constrangedora como aquela preferiu embarcar-nos sem maiores delongas.
O caso é simples como um verso (parafraseando Drummond) visto que
existe fiscalização de quem estaciona e onde. Uma vez constatada a
presença de um veículo não identificado como sendo de um portador de
deficiência, e já que nem todos eles, têm carro próprio,
verificasse se esta transportando um portador de deficiência ou não.
Simples. Já que se é possível perder tempo para encontrar a pessoa
que o utiliza para fazê-la se sentir mal, é possível encontrá-la para
inverter a situação no sentido positivo ao invés de manter uma postura
reacionária e pontual.
As vagas destinadas para os portadores de
deficiência, assim como as de idosos, não são vagas que devam
excluir e sim incluir. Não se trata de marcar os estes, como na
segunda guerra se fazia com os judeus que eram obrigados a colocar uma
estrela no braço para serem identificados como judeus. A inclusão nasce
em um berço diferente, nasce do respeito, da consideração por uma
parcela que deve ser vista pelos empresários como uma parcela
significativa de mercado, mas antes de tudo deve ser vista como uma
parcela que merece viver e fazer do seu dia-a-dia um dia normal. Tudo
deveria estar voltado para facilitar e não para burocratizar sua estada
em qualquer estabelecimento que seja.
TEM CARRO NAO IDENTIFICADO NA VAGA, VAMOS VERIFICAR SE ESTA OU NAO
TRASPORTANDO ALGUEM COM DEFICIÊNCIA. Shopping é um conceito que já
superou impasses desse porte há muito tempo atrás. Já é parte de uma
cultura global deve solucionar problemas de acessibilidade e não
criá-los.
Em suma, depois de dez anos dessa Lei ter sido lançada
pelo então presidente, ninguém além dos que sentem o problema em carne própria, se
importam. Ainda estamos engatinhando num processo já superado ha tempos
por outros países. Há que se lembrar que a maneira como estas questões
são tratadas servem como índices considerados para indicar o estágio de
desenvolvimento em que se encontra uma cidade, um país, uma região.
segunda-feira, 30 de janeiro de 2012
domingo, 29 de janeiro de 2012
MURALHAS SOCIAIS I
Por falar sobre a Lei federal que o presidente Lula
lançou logo no início do seu governo. Que diz em seu texto, que as
edificações, sejam elas particulares ou do estado, tinham um prazo de
dez anos para se adaptarem e dar acessibilidade aos portadores de
deficiência física. Da minha perspectiva de portadora, dez anos é uma
vida, principalmente para quem quer, como todo ser humano, a sua
independência, poder se locomover em ruas, calçadas e edificações.
Dia 20, passei por maus bocados. Num dos Pacs da cidade de Manaus, o veículo que me transportava foi impedido de estacionar próximo da rampa e numa posição um tanto inclinada com o objetivo de dar espaço para posteriormente posicionar a cadeira de rodas que iria me servir para descer. Neste PAC como em diversos locais, ainda não tem vaga para portadores de deficiência, nem mesmo só de fachada como são colocados em muitos lugares. E sabem quem se sentiu incomodado pela manobra? O “franelinha” que é quem comanda quem estaciona e como devem estacionar os motoristas do estacionamento do PAC.
Depois de muita discussão para fazê-lo entender e poder receber o seu consentimento, sem correr o risco de voltar e encontrar o veículo riscado. Consegui finalmente, entrar para cumprir com meus deveres de cidadã. Afinal, o único caso em que ninguém nunca esquece de nós é na hora de cobrar e punir atrasos nos pagamentos de todos os serviços que como qualquer pessoa “desfrutamos”. A única diferença é conseguir chegar onde nos é devido chegar.
Assim, foi se desenrolando a prometida sexta-feira, após o primeiro impacto do primeiro absurdo onde a realidade dá um “tapa” na nossa cara, chegou a hora de encarar mais um leão da intolerância e do desrespeito para com nós. Fui tentar ser atendida num consultório localizado no centro da cidade, com um dos melhores médicos que eu já tive o prazer de conhecer, o encontro marcado foi num desses tantos edifícios onde consultórios se concentram e que conseguem não somente aglomerar consultórios, mas substantivos estarrecedores como ENGARRAFAMENTO, CENTRO, EDIFICIO, ELEVADOR, INCENDIO.
Lá chegando reconstatei mais uma vez que ainda não havia sequer uma rampa que me levasse na frente do elevador. Tive que ir pela garagem, onde nenhum dos guardas é sequer alertado para tal possibilidade, não sabem como devem lidar com essas situações. Fatos que demonstram logo de entrada o descaso da gestão administrativa do local para com o portador de deficiência física.
Depois de finalmente chegar ao sétimo andar sem perder a oportunidade de refletir, como sempre, a respeito daquele cartaz que toda vez fica me olhando como que zombando da minha cara e que diz em letras enormes – EM CASO DE INCÊNDIO NÃO UTILIZE O ELEVADOR, VÁ PELAS ESCADAS -, entrei numa sala de espera onde as cadeiras destinadas aos pacientes tiveram que ser retiradas para que eu pudesse passar com a minha cadeira de rodas, praticamente ocupei o cômodo todo, pois o espaço é minúsculo.
Tive que esperar três horas para ser atendida, embora a consulta tivesse sido marcada para a hora que cheguei. Teria esperado mais se pudesse levar em consideração somente o médico, entrementes, impossível evitar depois de três horas o momento constrangedor onde somos obrigados a fazer a pergunta fatal para a secretaria - têm algum banheiro para portadores de deficiência física? O constrangimento decorre da uníssona resposta dela, onde visivelmente assustada e com ar de surpresa, como se em toda sua longa experiência de secretaria nunca tivesse sido perguntada por isso, diz não haver no prédio todo, nenhum banheiro especifico para cadeirantes.
Três longas horas, tentando lembrar da técnica que todo portador de deficiência elabora para casos como esse, sem poder fazer nada a respeito e sob o olhar de todos, a minha preocupação tornou-se maior porque eu já estava ali, justamente para tratar de assuntos que decorrem de longos períodos de tempo sentada na cadeira de rodas, causadores do mau funcionamento sanguineo e renal, e tive que preender “xixi” durante três horas.
Dia 20, passei por maus bocados. Num dos Pacs da cidade de Manaus, o veículo que me transportava foi impedido de estacionar próximo da rampa e numa posição um tanto inclinada com o objetivo de dar espaço para posteriormente posicionar a cadeira de rodas que iria me servir para descer. Neste PAC como em diversos locais, ainda não tem vaga para portadores de deficiência, nem mesmo só de fachada como são colocados em muitos lugares. E sabem quem se sentiu incomodado pela manobra? O “franelinha” que é quem comanda quem estaciona e como devem estacionar os motoristas do estacionamento do PAC.
Depois de muita discussão para fazê-lo entender e poder receber o seu consentimento, sem correr o risco de voltar e encontrar o veículo riscado. Consegui finalmente, entrar para cumprir com meus deveres de cidadã. Afinal, o único caso em que ninguém nunca esquece de nós é na hora de cobrar e punir atrasos nos pagamentos de todos os serviços que como qualquer pessoa “desfrutamos”. A única diferença é conseguir chegar onde nos é devido chegar.
Assim, foi se desenrolando a prometida sexta-feira, após o primeiro impacto do primeiro absurdo onde a realidade dá um “tapa” na nossa cara, chegou a hora de encarar mais um leão da intolerância e do desrespeito para com nós. Fui tentar ser atendida num consultório localizado no centro da cidade, com um dos melhores médicos que eu já tive o prazer de conhecer, o encontro marcado foi num desses tantos edifícios onde consultórios se concentram e que conseguem não somente aglomerar consultórios, mas substantivos estarrecedores como ENGARRAFAMENTO, CENTRO, EDIFICIO, ELEVADOR, INCENDIO.
Lá chegando reconstatei mais uma vez que ainda não havia sequer uma rampa que me levasse na frente do elevador. Tive que ir pela garagem, onde nenhum dos guardas é sequer alertado para tal possibilidade, não sabem como devem lidar com essas situações. Fatos que demonstram logo de entrada o descaso da gestão administrativa do local para com o portador de deficiência física.
Depois de finalmente chegar ao sétimo andar sem perder a oportunidade de refletir, como sempre, a respeito daquele cartaz que toda vez fica me olhando como que zombando da minha cara e que diz em letras enormes – EM CASO DE INCÊNDIO NÃO UTILIZE O ELEVADOR, VÁ PELAS ESCADAS -, entrei numa sala de espera onde as cadeiras destinadas aos pacientes tiveram que ser retiradas para que eu pudesse passar com a minha cadeira de rodas, praticamente ocupei o cômodo todo, pois o espaço é minúsculo.
Tive que esperar três horas para ser atendida, embora a consulta tivesse sido marcada para a hora que cheguei. Teria esperado mais se pudesse levar em consideração somente o médico, entrementes, impossível evitar depois de três horas o momento constrangedor onde somos obrigados a fazer a pergunta fatal para a secretaria - têm algum banheiro para portadores de deficiência física? O constrangimento decorre da uníssona resposta dela, onde visivelmente assustada e com ar de surpresa, como se em toda sua longa experiência de secretaria nunca tivesse sido perguntada por isso, diz não haver no prédio todo, nenhum banheiro especifico para cadeirantes.
Três longas horas, tentando lembrar da técnica que todo portador de deficiência elabora para casos como esse, sem poder fazer nada a respeito e sob o olhar de todos, a minha preocupação tornou-se maior porque eu já estava ali, justamente para tratar de assuntos que decorrem de longos períodos de tempo sentada na cadeira de rodas, causadores do mau funcionamento sanguineo e renal, e tive que preender “xixi” durante três horas.
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