terça-feira, 7 de agosto de 2012

GREVE DAS UNIVERSIDADES FEDERAIS...


O PERIGO DE SE LUTAR CONTRA DRAGÕES É UM DIA SE TRANSFORMAR NUM DELES....

Notas de uma experiência profissional, fatos e contextos em que professores universitários ilustres e bem renomados são apenas parte de um imaginário popular não existente, falso e relegado à cova por um governo que se diz “do trabalhador” e que prometeu dar atenção especial para a educação como alicerce para as transformações propostas por ele. Ledo engano.

A política governamental com direcionamento específico para o mercado em vários momentos transpareceu atenção especial do governo. Desta forma, declara que a “inclusão social” a que faz referência por meio de tantos programas propostos e postos em pratica, está especificamente direcionada, não à inclusão qualitativa real do ser humano, mas à inclusão no poder aquisitivo. “La economia de mercado crea una sociedad de mercado” (Pepe Mujica Rio+20). Estamos sendo espectadores de uma inclusão que aborda apenas um viés – transformar mais pessoas em mais consumidores – embora a proposta seja vendida como uma inclusão social que prima pela capacitação, pelo exercício cognitivo, pela reflexão e que traria assim, mais pessoas relegadas à miséria para um patamar de cidadania.

As universidades particulares são as primeiras em se aproveitar desta política de educação medonha. Criaram a figura do professor horista que é contratado por h/aula, na maioria das vezes só para tampar espaços deixados pelos professores titulares que já ingressam com titulação exigida pelo MEC. Muitos dos professores horistas, com titulação menor -graduados, especialistas e alguns mestres-, aceitam essa condição temporariamente na espera de serem absorvidos, mas isso não acontece porque o custo é elevado. Contratar professores, mesmo quando se precisam, é onerar a folha além dos benefícios e a exigência de um plano de carreira, em outras palavras, está fora da estratégia comercial.

Desse modo, grande parte dos professores universitários fica num rodízio pagando hs/aula em varias instituições para poder atingir um salário digno. Outra causa é o fato das universidades federais estarem vedadas na contratação de novos professores e quando isso acontece é de maneira ínfima comparada à necessidade das mesmas. O que elas tem feito, a fim de sanar essa cratera, é contratar professores substitutos e visitantes, fazendo uso dessa brecha como um meio de transpor essa deficiência no quadro, ainda assim, não podem absorvê-los quando o contrato de dois anos finda e ainda proíbe o professor de prestar concurso durante um ano quando já contemplado. Que plano de carreira pode um professor desses almejar? Que estabilidade tem para poder pensar em investir na sua carreira?

A valorização das universidades particulares pelo governo que injeta recursos aos empresários, sem sequer primar pelo tripé – ensino, pesquisa e extensão -, e sim o “mercado”, faz do aluno um “cliente” que deve ter o que deseja (diploma) e do professor um balconista que tem que atender os desejos do cliente. A qualidade de ensino é apenas um “Outdoor” atrativo que vende a ideia deste diploma como um “fim” e não como um "meio".

O discurso de “inclusão social”  é para as universidades particulares a brecha pela qual é explorada a educação superior como um produto qualquer de mercado. Enquanto são liberados incentivos nesse setor que explora o sonho de estudantes e o trabalho dos docentes para enriquecer os bolsos dos donos e vender a imagem populista do governo, as Universidades Federais ficam no esquecimento trabalhando em condições precárias e com uma quantidade de alunos por sala de aula de assustar qualquer pedagogia freiriana, professores sobrecarregados, tendo que dedicar-se exclusivamente à universidade a que estão atrelados mesmo que o salário não alcance.

As universidades federais e o ensino público em geral são castigados e funcionários e professores são estigmatizados como se estivessem protestando contra a política de inclusão, que aumentou significativamente o número de ingressos nas universidades, numa tentativa de desconstruir o discurso real da greve que é justamente o contrario, o de primar pela qualidade para todos os alunos, indiferente de cor ou classe social. Tem como base em suas propostas “Um professor pago de maneira justa, com boa estrutura para ministrar suas aulas e perspectiva de crescimento profissional, resultando em alunos reflexivos, conscientes e bem preparados para ingressar no mercado de trabalho, o que é justamente a inclusão social real”. Não é esse o objetivo do governo? O que está faltando para entendermos bem isso? Ahh, já sei. Esta faltando Educação!!!

2 comentários:

  1. Olá, Clara!
    Concordo com você. Chegamos no ponto que a Educação não pode mais ser deixada de lado (aliás, faz tempo). Juntamente com a Saúde!
    A partir do momento que houver investimentos nessas áreas, cada consumidor terá mais renda para injetar na Economia, se é isso que o governo quer...
    Abraços
    Parabéns pelo seu lúcido blog!
    Elaine

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    1. obrigada Lan, se o governo é dos trabalhadores, nao pode ignorar e brincar ou punir o professor, pois nao há trabalhador mais trabalhador do que um professor. Continue me prestigiando com sua presença, agradecerei sempre.

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