O PERIGO DE SE LUTAR CONTRA DRAGÕES É UM DIA SE TRANSFORMAR NUM
DELES....
Notas de uma experiência
profissional, fatos e contextos em que professores universitários ilustres e
bem renomados são apenas parte de um imaginário popular não existente, falso e
relegado à cova por um governo que se diz “do trabalhador” e que prometeu dar
atenção especial para a educação como alicerce para as transformações propostas
por ele. Ledo engano.
A política governamental com
direcionamento específico para o mercado em vários momentos transpareceu
atenção especial do governo. Desta forma, declara que a “inclusão social” a que
faz referência por meio de tantos programas propostos e postos em pratica, está
especificamente direcionada, não à inclusão qualitativa real do ser humano, mas
à inclusão no poder aquisitivo. “La economia de mercado
crea una sociedad de mercado” (Pepe Mujica Rio+20). Estamos sendo espectadores de uma
inclusão que aborda apenas um viés – transformar mais pessoas em mais
consumidores – embora a proposta seja vendida como uma inclusão social que
prima pela capacitação, pelo exercício cognitivo, pela reflexão e que traria
assim, mais pessoas relegadas à miséria para um patamar de cidadania.
As universidades particulares são as primeiras em
se aproveitar desta política de educação medonha. Criaram a figura do professor
horista que é contratado por h/aula, na maioria das vezes só para tampar espaços
deixados pelos professores titulares que já ingressam com titulação exigida
pelo MEC. Muitos dos professores horistas, com titulação menor -graduados,
especialistas e alguns mestres-, aceitam essa condição temporariamente na
espera de serem absorvidos, mas isso não acontece porque o custo é elevado. Contratar
professores, mesmo quando se precisam, é onerar a folha além dos benefícios e a
exigência de um plano de carreira, em outras palavras, está fora da estratégia
comercial.
Desse modo, grande parte dos professores
universitários fica num rodízio pagando hs/aula em varias instituições para
poder atingir um salário digno. Outra causa é o fato das universidades federais
estarem vedadas na contratação de novos professores e quando isso acontece é de
maneira ínfima comparada à necessidade das mesmas. O que elas tem feito, a fim
de sanar essa cratera, é contratar professores substitutos e visitantes,
fazendo uso dessa brecha como um meio de transpor essa deficiência no quadro,
ainda assim, não podem absorvê-los quando o contrato de dois anos finda e ainda
proíbe o professor de prestar concurso durante um ano quando já contemplado.
Que plano de carreira pode um professor desses almejar? Que estabilidade tem
para poder pensar em investir na sua carreira?
A valorização das universidades
particulares pelo governo que injeta recursos aos empresários, sem sequer
primar pelo tripé – ensino, pesquisa e extensão -, e sim o “mercado”, faz do
aluno um “cliente” que deve ter o que deseja (diploma) e do professor um
balconista que tem que atender os desejos do cliente. A qualidade de ensino é
apenas um “Outdoor” atrativo que vende a ideia deste diploma como um “fim” e
não como um "meio".
O discurso de “inclusão
social” é para as universidades
particulares a brecha pela qual é explorada a educação superior como um produto
qualquer de mercado. Enquanto são liberados incentivos nesse setor que explora
o sonho de estudantes e o trabalho dos docentes para enriquecer os bolsos dos
donos e vender a imagem populista do governo, as Universidades Federais ficam
no esquecimento trabalhando em condições precárias e com uma quantidade de
alunos por sala de aula de assustar qualquer pedagogia freiriana, professores
sobrecarregados, tendo que dedicar-se exclusivamente à universidade a que estão
atrelados mesmo que o salário não alcance.
As universidades federais e o
ensino público em geral são castigados e funcionários e professores são
estigmatizados como se estivessem protestando contra a política de inclusão,
que aumentou significativamente o número de ingressos nas universidades, numa
tentativa de desconstruir o discurso real da greve que é justamente o
contrario, o de primar pela qualidade para todos os alunos, indiferente de cor
ou classe social. Tem como base em suas propostas “Um professor pago de maneira
justa, com boa estrutura para ministrar suas aulas e perspectiva de crescimento
profissional, resultando em alunos reflexivos, conscientes e bem preparados
para ingressar no mercado de trabalho, o que é justamente a inclusão social
real”. Não é esse o objetivo do governo? O que está faltando para entendermos
bem isso? Ahh, já sei. Esta faltando Educação!!!
Olá, Clara!
ResponderExcluirConcordo com você. Chegamos no ponto que a Educação não pode mais ser deixada de lado (aliás, faz tempo). Juntamente com a Saúde!
A partir do momento que houver investimentos nessas áreas, cada consumidor terá mais renda para injetar na Economia, se é isso que o governo quer...
Abraços
Parabéns pelo seu lúcido blog!
Elaine
obrigada Lan, se o governo é dos trabalhadores, nao pode ignorar e brincar ou punir o professor, pois nao há trabalhador mais trabalhador do que um professor. Continue me prestigiando com sua presença, agradecerei sempre.
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