Por falar sobre a Lei federal que o presidente Lula
lançou logo no início do seu governo. Que diz em seu texto, que as
edificações, sejam elas particulares ou do estado, tinham um prazo de
dez anos para se adaptarem e dar acessibilidade aos portadores de
deficiência física. Da minha perspectiva de portadora, dez anos é uma
vida, principalmente para quem quer, como todo ser humano, a sua
independência, poder se locomover em ruas, calçadas e edificações.
Dia 20, passei por maus bocados. Num dos Pacs da cidade de Manaus, o
veículo que me transportava foi impedido de estacionar próximo da rampa e
numa posição um tanto inclinada com o objetivo de dar espaço para
posteriormente posicionar a cadeira de rodas que iria me servir para
descer. Neste PAC como em diversos locais, ainda não tem vaga para
portadores de deficiência, nem mesmo só de fachada como são colocados em
muitos lugares. E sabem quem se sentiu incomodado pela manobra? O
“franelinha” que é quem comanda quem estaciona e como devem estacionar
os motoristas do estacionamento do PAC.
Depois de muita discussão
para fazê-lo entender e poder receber o seu consentimento, sem correr o
risco de voltar e encontrar o veículo riscado. Consegui finalmente,
entrar para cumprir com meus deveres de cidadã. Afinal, o único caso em
que ninguém nunca esquece de nós é na hora de cobrar e punir atrasos nos
pagamentos de todos os serviços que como qualquer pessoa “desfrutamos”.
A única diferença é conseguir chegar onde nos é devido chegar.
Assim,
foi se desenrolando a prometida sexta-feira, após o primeiro impacto do
primeiro absurdo onde a realidade dá um “tapa” na nossa cara, chegou a hora de encarar mais um leão da intolerância
e do desrespeito para com nós. Fui tentar ser atendida num consultório
localizado no centro da cidade, com um dos melhores médicos que eu já
tive o prazer de conhecer, o encontro marcado foi num desses tantos
edifícios onde consultórios se concentram e que conseguem não somente
aglomerar consultórios, mas substantivos estarrecedores como
ENGARRAFAMENTO, CENTRO, EDIFICIO, ELEVADOR, INCENDIO.
Lá chegando
reconstatei mais uma vez que ainda não havia sequer uma rampa que me
levasse na frente do elevador. Tive que ir pela garagem, onde nenhum dos
guardas é sequer alertado para tal possibilidade, não sabem como devem
lidar com essas situações. Fatos que demonstram logo de entrada o
descaso da gestão administrativa do local para com o portador de
deficiência física.
Depois de finalmente chegar ao sétimo andar
sem perder a oportunidade de refletir, como sempre, a respeito daquele
cartaz que toda vez fica me olhando como que zombando da minha cara e
que diz em letras enormes – EM CASO DE INCÊNDIO NÃO UTILIZE O ELEVADOR,
VÁ PELAS ESCADAS -, entrei numa sala de espera onde as cadeiras
destinadas aos pacientes tiveram que ser retiradas para que eu pudesse
passar com a minha cadeira de rodas, praticamente ocupei o cômodo todo,
pois o espaço é minúsculo.
Tive que esperar três horas para ser
atendida, embora a consulta tivesse sido marcada para a hora que
cheguei. Teria esperado mais se pudesse levar em consideração somente o
médico, entrementes, impossível evitar depois de três horas o momento
constrangedor onde somos obrigados a fazer a pergunta fatal para a secretaria - têm algum banheiro para portadores de
deficiência física? O constrangimento decorre da uníssona resposta dela,
onde visivelmente assustada e com ar de surpresa, como se em toda
sua longa experiência de secretaria nunca tivesse sido perguntada por
isso, diz não haver no prédio todo, nenhum banheiro
especifico para cadeirantes.
Três longas horas, tentando lembrar
da técnica que todo portador de deficiência elabora para casos como
esse, sem poder fazer nada a respeito e sob o olhar de todos, a minha
preocupação tornou-se maior porque eu já estava ali, justamente para
tratar de assuntos que decorrem de longos períodos de tempo sentada na
cadeira de rodas, causadores do mau funcionamento sanguineo e renal, e
tive que preender “xixi” durante três horas.
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