domingo, 29 de janeiro de 2012

MURALHAS SOCIAIS I

Por falar sobre a Lei federal que o presidente Lula lançou logo no início do seu governo. Que diz em seu texto, que as edificações, sejam elas particulares ou do estado, tinham um prazo de dez anos para se adaptarem e dar acessibilidade aos portadores de deficiência física. Da minha perspectiva de portadora, dez anos é uma vida, principalmente para quem quer, como todo ser humano, a sua independência, poder se locomover em ruas, calçadas e edificações.

Dia 20, passei por maus bocados. Num dos Pacs da cidade de Manaus, o veículo que me transportava foi impedido de estacionar próximo da rampa e numa posição um tanto inclinada com o objetivo de dar espaço para posteriormente posicionar a cadeira de rodas que iria me servir para descer. Neste PAC como em diversos locais, ainda não tem vaga para portadores de deficiência, nem mesmo só de fachada como são colocados em muitos lugares. E sabem quem se sentiu incomodado pela manobra? O “franelinha” que é quem comanda quem estaciona e como devem estacionar os motoristas do estacionamento do PAC.

Depois de muita discussão para fazê-lo entender e poder receber o seu consentimento, sem correr o risco de voltar e encontrar o veículo riscado. Consegui finalmente, entrar para cumprir com meus deveres de cidadã. Afinal, o único caso em que ninguém nunca esquece de nós é na hora de cobrar e punir atrasos nos pagamentos de todos os serviços que como qualquer pessoa “desfrutamos”. A única diferença é conseguir chegar onde nos é devido chegar.

Assim, foi se desenrolando a prometida sexta-feira, após o primeiro impacto do primeiro absurdo onde a realidade dá um “tapa” na nossa cara, chegou a hora de encarar mais um leão da intolerância e do desrespeito para com nós. Fui tentar ser atendida num consultório localizado no centro da cidade, com um dos melhores médicos que eu já tive o prazer de conhecer, o encontro marcado foi num desses tantos edifícios onde consultórios se concentram e que conseguem não somente aglomerar consultórios, mas substantivos estarrecedores como ENGARRAFAMENTO, CENTRO, EDIFICIO, ELEVADOR, INCENDIO.

Lá chegando reconstatei mais uma vez que ainda não havia sequer uma rampa que me levasse na frente do elevador. Tive que ir pela garagem, onde nenhum dos guardas é sequer alertado para tal possibilidade, não sabem como devem lidar com essas situações. Fatos que demonstram logo de entrada o descaso da gestão administrativa do local para com o portador de deficiência física.

Depois de finalmente chegar ao sétimo andar sem perder a oportunidade de refletir, como sempre, a respeito daquele cartaz que toda vez fica me olhando como que zombando da minha cara e que diz em letras enormes – EM CASO DE INCÊNDIO NÃO UTILIZE O ELEVADOR, VÁ PELAS ESCADAS -, entrei numa sala de espera onde as cadeiras destinadas aos pacientes tiveram que ser retiradas para que eu pudesse passar com a minha cadeira de rodas, praticamente ocupei o cômodo todo, pois o espaço é minúsculo.

Tive que esperar três horas para ser atendida, embora a consulta tivesse sido marcada para a hora que cheguei. Teria esperado mais se pudesse levar em consideração somente o médico, entrementes, impossível evitar depois de três horas o momento constrangedor onde somos obrigados a fazer a pergunta fatal para a secretaria  - têm algum banheiro para portadores de deficiência física? O constrangimento decorre da uníssona resposta dela, onde visivelmente assustada e com ar de surpresa, como se em toda sua longa experiência de secretaria nunca tivesse sido perguntada por isso, diz não haver no prédio todo, nenhum banheiro especifico para cadeirantes.

Três longas horas, tentando lembrar da técnica que todo portador de deficiência elabora para casos como esse, sem poder fazer nada a respeito e sob o olhar de todos, a minha preocupação tornou-se maior porque eu já estava ali, justamente para tratar de assuntos que decorrem de longos períodos de tempo sentada na cadeira de rodas, causadores do mau funcionamento sanguineo e renal, e tive que preender “xixi” durante três horas.

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